DESTA VIDA NADA SE LEVA E NÃO FARÁ FALTA
NA OUTRA
“Aquele
pomar também é meu. Tenho coisas demais para mim sozinha!... Já era demais
quando eu ainda tinha o meu esposo, e a tarde, olhávamos um para o outro, dentro
de uma casa vazia demais, grande demais, diante de dinheiro demais, na contagem
de mantimentos demais, e dizíamos um ao outro: “E para quem tudo isso?” E agora
eu o digo ainda... E toda a tristeza de um casamento estéril se mostra nas
palavras da mulher.
“Há
pobres sempre...”, diz Jesus.
“Oh!
Sim. E a minha casa se abre para eles todos os dias. Mas depois...”
“Queres
dizer, quando estiveres morta?”
“Sim,
Senhor. Será uma dor deixar... para quem?... estas coisas que foram tão bem
cuidadas.”
Jesus
tem uma sombra de sorriso, cheio de compaixão. Mas responde com bondade: “Tu és
mais sábia para as coisas da terra do que para as do Céu, mulher. Tu te
preocupas para que as tuas plantas cresçam bem, e não se formem clareiras em
teus bosques. Tu te afliges pensando que depois elas não sejam tão bem cuidadas
como agora. Mas esses pensamentos são poucos sábios, pelo contrário, são até
completamente estultos. Achas tu que na outra vida tenham valor essas pobres
coisas, cujos nomes são: plantas, frutas, dinheiro, casas? E que causará
aflição ver que elas foram descuidadas? Corrige o teu pensamento, mulher. Lá os
pensamentos não são os daqui, em nenhum dos três reinos. No inferno, o ódio e o
castigo fazem que fiquem ferozmente cegos. No Purgatório, a sede que têm de
fazer expiação anula qualquer outro pensamento. No Limbo(1) a feliz espera em
que estão os justos não é profanada por nenhuma sensualidade. A terra ficou
longe, com as suas misérias. Mas está perto somente quanto às suas necessidades
sobrenaturais, necessidades de almas, e não de objetos. Os falecidos que não
tiverem sido condenados, só por um amor sobrenatural é que voltam à terra os
espíritos deles, e a Deus dirigem as suas orações por aqueles que estão na
terra. Não para outras coisas. E, quando então, os justos entrarem no Reino de
Deus, que achas que falte ainda para um que contempla a Deus? Será este
miserável cárcere? Será este exílio que se chama terra? Que será? As coisas
deixadas nela? Poderia o dia ter saudade de uma lamparina, que já está
fumegando, quando ele está sendo já iluminado pelo sol?”
“Oh!
Não!”
“E,
então? Por que ficas suspirando por causa do que vais deixar?”
“Mas
eu gostaria que um herdeiro continuasse a...”
“A
gozar de tuas riquezas terrenas para encontrar nelas um obstáculo para não se
tornar perfeito, enquanto que o desapego das riquezas é uma escada para possuir
as riquezas eternas? Estás vendo ó mulher? O maior obstáculo para conseguir ter
este inocente não é bem a mãe dele, com os seus direitos sobre o filho, mas o
teu coração. Ele é um inocente, um triste inocente, mas sempre um inocente que,
pelo seu próprio sofrimento, é querido por Deus. Mas, se tu fizeres dele um
avarento, um cobiçoso, talvez um viciado, com os meios que tens, não o privarias
tu da predileção de Deus? E poderia Eu, que tomo cuidado desses inocentes, ser
um mestre descuidado que, sem refletir, permite que um seu inocente discípulo
se extravie? Cuida primeiro de ti mesma, despoja-te dessa humanidade ainda viva
demais, livra a tua justiça dessa crosta de humanidade que a deprime, e, então,
merecerás ser mãe. Porque não é mãe somente quem gera, ou quem ama um filho
adotivo e cuida dele, e o acompanha nas suas necessidades de criatura animal. A
mãe deste também o gerou. Mas não é mãe, porque não cuida nem da carne, nem do
seu espírito. Mas o é, quando cuida sobretudo daquilo que o filho não morrerá
mais, isto é, do espírito, e não somente do que nele morre, isto é, a matéria.
E acredita, ó mulher, que quem amar o espírito amará também o corpo, porque
terá um amor justo, e portanto será justo.”
“Eu
perdi o filho, e o compreendo.”
“Ninguém
disse isto. Que o teu desejo te leve à santidade, e Deus te ouvirá. Sempre
haverá órfãos no mundo.”
(de
Jesus à Valtorta, Vol 7, pgs. 175, 176)
OBS:
(1) – No Limbo – Este é um
texto, enquanto Jesus andava sobre a terra, portanto não existia o Paraíso
ainda, e sim o Limbo para os justos que morreram antes da morte do Cristo. O
Limbo era um lugar de espera feliz, lugar onde os justos esperaram a morte de
Jesus na Cruz, para depois serem transportados para o indecifrável, de tão
lindo que é, o Paraíso, criado pelo Verbo de Deus para receber os cristãos
crentes, os perseverantes na fé, os iluminados pela graça e merecedores do
prêmio. Por isso neste texto Jesus não fala do Paraíso a mulher, se referindo
aos três reinos, o Inferno, o Purgatório( que se extingue no último dia, no
julgamento final), e o Limbo, agora Paraíso. Sendo pois, duas as potências que
existirão para sempre, sem jamais ter fim: as eternas: o Inferno e o Paraíso.
(Antonio)
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