JESUS E OS DOUTORES DA LEI
“Vós,
ó fariseus, lavais o cálice e o prato, e lavais vossas mãos e vossos pés, como
se o prato e o cálice, as mãos e os pés tivessem que entrar em vosso espírito,
que vós gostais de proclamar que é puro e perfeito. Mas não sois vós, e sim
Deus, que pode proclamar essas coisas. Pois bem. Ficai sabendo o que é que Deus
pensa do vosso espírito. Deus pensa que ele está cheio de mentira, de sujeira e
de rapina, cheio de iniqüidades, e que nada do exterior pode corromper aquilo
que já está corrompido.
Mas,
quem fez o vosso espírito, como fez também o vosso corpo, não pode exigir, pelo
menos em medida igual, que tenhais um respeito às coisas interiores, como tendes
para as coisas exteriores? Ó estultos que sois, mudando os dois valores,
invertendo o poder deles! Não quererá o Altíssimo um maior cuidado com o
espírito, feito à sua semelhança, e que pela corrupção perde a Vida Eterna, do
que com a mão e o pé, cuja sujeira pode ser limpada com facilidade, e que, se
por acaso ainda continuassem sujos, não teriam nenhuma influência sobre a
limpeza interior? E pode Deus preocupar-se com a limpeza de um cálice ou de uma
bandeja, quando essas coisas são apenas coisas sem alma, e não podem influir
sobre a vossa alma?
“Eu
estou lendo o teu pensamento, Simão Boetos. Não. Ele não tem consistência. Não
é por um pensamento de saúde, não é para a proteção de vossa carne, de vossa
vida, que vós tomais esses cuidados e praticais essas purificações. Os pecados
carnais, especialmente os pecados da gula, das intemperanças, das luxúrias são
certamente mais nocivos à carne do que um pouco de poeira sobre as mãos ou
sobre um prato. Contudo, vós os praticais, sem preocupar-vos de cuidar de vossa
existência e da incolumidade dos vossos familiares. E fazeis pecados de outras
espécies, porque, além da contaminação do espírito e do vosso corpo, o
esbanjamento de vossas forças, a falta de respeito para com os familiares, as
faltas feitas para com o Senhor pela profanação do vosso corpo, no qual deveria
estar o trono para o espírito Santo. E a ofensa pelo juízo que fazeis de que vós
deveis proteger das doenças que vêm de um pouco de poeira, como se Deus não
pudesse intervir para proteger-vos das doenças físicas, se a Ele recorrêsseis
com espírito puro.
Mas
aquele que criou o interior, por acaso não criou também o exterior, e
vice-versa? E não é o interior a parte mais nobre e marcada pela presença de
Deus? Fazei, então obras que sejam dignas de Deus, e não essas mesquinharias,
que não se elevam acima da poeira, com a qual, e da qual são feitas, da pobre
poeira que é o homem em seu corpo, em sua estrutura como criatura animal, um
barro ao qual se deu forma,e que volta ao pó, um pó que o vento dos séculos
espalha. Fazei obras que permaneçam, que sejam dignas do Rei, e santas, obras
que mereçam a coroa da bênção divina. Fazei caridade, e daí esmola, sede
honestos, sede puros em vossas obras, em vossas intenções, mesmo sem recorrer à
água de vossas abluções, tudo será puro em vós.
Mas,
que é que estais achando? Que estais certos, porque pagais os dízimos dos
aromas? Não.
Ai
de vós, ó fariseus, que pagais os dízimos da hortelã e da arruda, da mostarda e
do cominho, do funcho e de todas as outras hortaliças, mas vos descuidais da
justiça e do amor a Deus. Pagar os dízimos é um dever, e se cumpre. Mas há
outros deveres, e que também são cumpridos. Ai de quem observa as coisas
exteriores, e se descuida de observar as interiores, baseados sobre o amor a
Deus e ao próximo.
Ai
de vós, ó fariseus, que amais os primeiros lugares nas sinagogas e nas
reuniões, e gostais de ser reverenciados nas praças, mas não pensais em fazer
os obras que vos dêem um lugar no Céu, e mereçam para vós a reverência dos
anjos. Vós sois parecidos a uns escondidos, que ficam sem serem observados por
quem passa por perto deles e não sente arrepios, mas que arrepios sentiria, se
pudesse ver o que é que está fechado dentro deles. Deus porém, vê todas as
coisas até as mais ocultas, e não se engana ao julgar-vos.”
Jesus
é interrompido por um doutor da Lei, que se levanta, e põe-se de pé para
contradizê-lo. “Mestre, falando assim nos ofendes, logo a nós, e isso não te
convém, porque nós devemos te julgar.”
“Não. Não vós. Vós não podeis julgar-me,
vós é que sereis os julgados e não juízes, e quem vos julga é Deus. Vós podeis
falar, emitir sons por meio de vossos lábios. Mas nem mesmo a voz mais poderosa
é capaz de chegar aos Céus, nem percorre toda a terra. Num pequeno espaço de
tempo, volta o silêncio... E, depois de pouco tempo, vem o esquecimento. Mas o
julgamento de Deus é uma voz que permanece, e não está sujeita a esquecimentos.
Séculos e séculos já se passaram, desde quando Deus julgou a Lúcifer, e julgou
a Adão. Mas a voz daquele juízo não emudeceu. E as conseqüências daquele juiz
ainda existem. E, se aos homens, por
meio do Sacrifício perfeito, o juízo sobre o ato de Adão continua sendo o que
é, e é chamado “Culpa de origem”, assim o será sempre. Os homens serão
redimidos, lavados por uma purificação superior a qualquer outra, mas nascerão
com aquele sinal, porque Deus decretou que aquele sinal deva estar em todos os
nascidos de mulher, menos para aqueles que, não por obra de homem, mas pelo
Espírito Santo, foi feito e para a Preservada e o Pré-santificado, virgens para
sempre. A Primeira, para poder ser a Mãe de Deus, e o segundo para poder vir à
frente do Inocente, nascendo já limpo, pela fruição antecipada dos méritos
infinitos do Salvador Redentor.
E
Eu vos digo que Deus vos julga... E vos julga, dizendo:
“Ai
de vós, doutores da Lei, porque sobrecarregais o povo com pesos insuportáveis,
transformando em castigo o paterno Decálogo, pelo Altíssimo dado ao seu povo.”
Ele com amor e por amor o havia dado para que o homem fosse ajudado por um
justo guia, o homem, esse eterno imprudente, e ignorante menino. E vós, em vez
das amorosas andadeiras com que Deus havia ajudado as suas criaturas, a fim de
que pudessem andar para a frente, pelo seu caminho, e apertá-las sobre seu
coração, substituístes as andadeiras por montanhas de pedras agudas, pesadas,
atormentadoras, com um labirinto de prescrições, um íncubo de escrúpulos, pelo
qual o homem fica esmagado, extraviado, e para, e fica com medo de Deus, como
de um inimigo. Vós criais obstáculos para a ida dos corações a Deus. Vós
separais o Pai dos filhos. Vós negais, com as vossas imposições, esta doce,
bendita, verdadeira Paternidade. Vós, porém, os pesos que dais aos outros não
quereis, nem com um dedo, tocar neles. Vós vos julgais justificados, só por
haver-lhes dado aqueles pesos. Mas, ó
estultos, não sabeis que sereis julgados por aquilo que houverdes julgado ser
necessário para a salvação? Não sabeis que Deus vos dirá: “Vós dizeis que era
sagrada e justa a vossa palavra. Pois bem. Eu também a julgo assim. E, visto
que a impusestes a todos, e pelo modo como foi acolhida e praticada é que
tendes julgado os irmãos, eis que Eu vos julgo pela vossa palavra. E, pois que
não fizestes o que dissestes a eles que fizessem, sede condenados!”
Ai
de vós que ergueis sepulcros para os profetas, que os vossos pais mataram. E,
por que não? Achais que com isso diminuireis a gravidade da culpa de vossos
pais? E que a anulareis aos olhos dos pósteros? Não, pelo contrário. Vós dais
testemunhos desses atos dos vossos pais. Não somente isso. Mas os aprovais, e
estais prontos para imitá-los, erguendo depois um sepulcro em honra do profeta
perseguido, para poderdes dizer: “Nós lhe prestamos honras”. Hipócritas! É por
isso que a sabedoria de Deus disse: “Eu lhes mandarei profetas e apóstolos. E
deles eles matarão alguns, perseguirão a outros, para que se possa exigir desta
geração o sangue de todos os profetas, que foi derramado desde a criação do
mundo até hoje, desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi morto
entre o altar e o Santuário.”
Sim. Em verdade, em verdade, Eu vos digo
que de todo esse sangue de santos será pedida conta a esta geração, que não
sabe distinguir onde é que está Deus e persegue o justo, e o mata, porque o
justo é a prova viva da injustiça deles.
Ai
de vós, doutores da Lei, que usurpais a chave da ciência, e fechais o templo
para não entrardes nele, a fim de por ela serdes julgados, e não permitistes
que os outros lá entrassem. Porque vós sabeis que, se o povo fosse doutrinado
pela verdadeira Ciência, isto é, pela Sabedoria santa, poderia julgar-vos. Por
isso vós preferis que ele fique ignorante, para que não vos julgue. E vós me
odiais, porque Eu sou a palavra da Sabedoria, e gostaríeis de ver-me fechado,
antes do tempo, em um cárcere, em um sepulcro, para que Eu não falasse mais.
Mas Eu falarei, enquanto ao Pai agradar
que Eu fale. E depois falarão as minhas obras, mais ainda do que as minhas
palavras. E falarão os meus merecimentos, mais ainda do que as minhas obras, e
o mundo será instruído, e ficarão sabendo, e vos julgará, o primeiro juízo é
sobre vós. Depois virá o segundo, o juízo singular, na morte década um de vós.
E finalmente o último, o Universal. E vos lembrareis deste dia, e destes dias,
e vós sozinhos, conhecereis o Deus terrível, que vos tereis esforçado para
apresentar como uma visão de íncubo, diante do espírito dos simples, enquanto
vós, no interior do vosso sepulcro, tiverdes zombado dele e do primeiro e
principal mandamento: O Amor, até o último dado no Sinai, pois não tivestes
respeito a ele, e desobedecestes.
Inutilmente,
ó Elquias, é que não tenhas figurações em tua casa. Inutilmente, ó vós todos,
que não tenhais objetos esculpidos em vossas casas. No interior de vossos
corações é que tendes o ídolo, muitos ídolos. Um deles é que vós creiais uns
deuses, os das vossas concupiscências.
Vinde,
vós. Vamos embora.”
(de
Jesus à Valtorta, Vol 6, pgs.363 a 367)
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