“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

terça-feira, 6 de outubro de 2015

APRESENTAÇÃO DE MARIA NO TEMPLO


 Purificação de Ana e oferecimento de Maria, a menina perfeita para o reino dos Céus.


 28 de agosto de 1944.

Em Jerusalém, vejo Joaquim e Ana com Zacarias e Isabel saírem juntos de uma casa, certamente de parentes ou amigos, e dirigirem-se ao Templo, onde vão para a cerimônia da Purificação. Ana tem nos braços a menina, toda envolta em cueiros, tendo sido antes enrolada com um amplo tecido de lã mais leve, que deve ser macio e quente. Com que cuidado e amor leva a sua filhinha, levantando de vez em quando a beirada do pano fino e quente, para ver se Maria respira bem, e depois, cobre-a bem de novo, para protegê-la do ar gelado deste dia sereno, embora de pleno inverno. Isabel tem alguns pacotes nas mãos. Joaquim puxa com uma corda dois cordeiros grandes e muito brancos, que já são mais carneiros que cordeiros. Zacarias não leva nada. Ele está muito bonito em sua veste de linho, que um pesado manto de lã também branco, deixa entrever. Um Zacarias muito mais jovem do que aquele visto no tempo do nascimento do Batista, em plena virilidade, como também Isabel é agora uma mulher madura, mas ainda de aparência jovem. Todas as vezes que Ana olha a menina, ela também se inclina extasiada, sobre o rostinho adormecido. Muito bonita, com um vestido azul que tende ao violeta escuro, com um véu que lhe cobre a cabeça, descendo depois sobre os ombros e sobre o manto mais escuro que o vestido. Joaquim e Ana, enfim, estão realmente esplêndidos em suas vestes de festa. Ao contrário do seu costume, ele não está com sua túnica marrom escuro, mas com uma longa veste de um vermelho bem escuro, diríamos, um vermelho de fundo, e as franjas colocadas em seu manto são muito novas e bonitas. Na cabeça, ele tem também uma espécie de véu retangular, cingido com uma tira de couro. Sua roupa é toda nova e fina. Ana, oh! ela não se veste de escuro hoje. Está com um vestido amarelo muito claro, quase da cor do marfim velho, ajustado à cintura, ao pescoço e aos pulsos por meio de um cinturão que parece ser de prata e ouro. A sua cabeça está coberta com um véu muito leve, que parece adamascado e está preso à fronte por uma lâmina delgada e preciosa. Ao pescoço, um colar de filigrana e nos pulsos, braceletes. Parece uma rainha, também pela dignidade com que caminha com sua veste, em especial o manto amarelo claro, com galões formando um bordado muito bonito, tom sobre tom.
- Parece-me estar te vendo no dia em que fostes a noiva. Eu era pouco mais que uma menina, mas lembro-me ainda como estavas bonita e feliz, diz Isabel.
- Mas hoje estou ainda mais... Quis pôr a mesma roupa daquele dia para a cerimônia de hoje. Eu a guardei sempre para este dia... Já não esperava mais poder usá-la para esta festa.  
- O Senhor te amou muito... - diz Isabel com um suspiro.
- É por isso que eu Lhe dou a coisa que eu mais amo. Esta minha flor.
- Como farás para arrancá-la do seio, quando chegar a hora?
- Recordando-me que eu não a tinha, e a recebi de Deus. Estarei sempre mais feliz agora, do que antes. Quando pensar que ela estará no Templo, direi a mim mesma: “Reza junto ao Tabernáculo, ora ao Deus de Israel também por sua mãe” e ficarei em paz. E ainda maior paz terei, ao dizer: “Ela é toda Sua. Quando estes dois velhos felizes que a receberam do Céu não estiverem mais em vida, Ele, o Eterno, lhe será eternamente Pai”. Podes crer, eu tenho disso a firme convicção, esta pequenina não é nossa. Nada mais eu podia fazer... Foi Ele que a colocou em meu ventre, este dom divino para enxugar o meu pranto, confortar as nossas esperanças e atender as nossas orações. Por isso ela é Sua: Nós somos somente os felizes guardiães dela... e por isso Deus seja bendito!  
Chegam até os muros do Templo.
- Enquanto vos dirigis para a porta de Nicanor, eu vou avisar o sacerdote. Depois, eu virei também - diz Zacarias, desaparecendo atrás de um arco, que dá para um grande pátio rodeado de pórticos. A comitiva continua a encaminhar-se pelos sucessivos terraços. Porque (não sei se já o disse) o recinto do Templo não está sobre um terreno plano, mas vai-se elevando por degraus sucessivos sempre mais altos. A cada lance pode-se chegar por escadarias, e em cada lance há pátios, pórticos e portais muitos bem trabalhados, de mármore, bronze e ouro. Antes de chegarem ao lugar combinado, eles param e vão tirar dos pacotes as coisas que tinham levado, ou seja, pães cozidos, de formato achatado e de pouca espessura, feitos com muita gordura, um pouco de farinha branca, duas pombas em uma pequena gaiola de vime e grandes moedas de prata, certas patacas tão pesadas, que por sorte não havia bolsos naquele tempo, pois não resistiriam. Eis a bonita porta de Nicanor, um trabalho bem acabado de entalhe, feito de pesado bronze com lâminas de prata. Lá já se encontra Zacarias, ao lado de um sacerdote esplêndidamente vestido de linho. Ana recebe a aspersão de uma água, que eu suponho seja a água lustral, e depois recebe a ordem de aproximar-se do altar do sacrifício. A menina não está mais em seus braços. Isabel carrega, estando ainda do outro lado da porta. Joaquim, por sua vez, entra, atrás de sua mulher, puxando um pobre cordeiro balindo. Faço como na purificação de Maria: fecho os olhos para não ver degolações como esta. Agora Ana está purificada. Zacarias diz em voz baixa algumas palavras a um colega, o qual concorda, sorrindo. Depois aproxima-se do grupo, que já se reuniu de novo, congratulando-se com a mãe e o pai pela sua alegria e pela fidelidade às promessas feitas, recebendo o segundo cordeiro, a farinha e os pães cozidos.
- Então, esta filha está sendo consagrada ao Senhor? Que a Sua bênção esteja com ela e convosco. Eis Ana que chega. Ela será uma de suas mestras. É Ana de Fanuel, da tribo de Aser. Vem, mulher! Esta pequenina é oferecida ao Templo em hóstia de louvor. E tu serás sua mestra. Submissa a ti, ela crescerá na santidade. Ana de Fanuel, já com os cabelos todos brancos, acaricia a menina, que acabou de acordar e olha com seus olhos inocentes e espantados toda aquela brancura e todo aquele ouro, que a luz do sol faz brilhar. A cerimônia deve ter acabado. Não vi nenhum rito especial para a oferta de Maria. Talvez fosse suficiente dizê-lo ao sacerdote e sobretudo que o dissessem a Deus, no lugar sagrado.  
- Eu gostaria de fazer a oferta ao Templo, e ir depois àquele lugar, onde vi aquela luz no ano passado. Vão assim para lá, acompanhados por Ana de Fanuel. Mas não entram no Templo propriamente dito. Compreende-se que, tratando-se de mulheres e de uma menina, não chegaram até o lugar, ao qual Maria chegou, quando veio oferecer o seu Filho. Mas, bem perto da porta toda aberta, olham para o interior meio escuro, de onde estão vindo doces cantos de meninas, e de onde vem o brilho de lâmpadas preciosas, que espalham uma luz de ouro sobre dois canteiros de cabecinhas cobertas com véus brancos, dois verdadeiros canteiros de lírios.
- Daqui a três anos tu também estarás lá, meu Lírio, promete Ana  a Maria, que olha como que fascinada para o interior do Templo, sorrindo ao lento canto.
- Parece até que ela compreende - diz Ana de Fanuel - É uma linda menina! Será querida por mim, como se fizesse parte de minhas entranhas. Assim eu te prometo ó mãe, se a idade me permitir.
- Sim, que poderás, mulher! - diz Zacarias - Tu a receberás entre as meninas consagradas. Eu também estarei lá. Quero estar lá naquele dia para dizer a ela que reze por nós desde o primeiro momento... - e olha para a sua mulher; que compreende, suspirando. A cerimônia terminou, e Ana de Fanuel se retira, enquanto os outros saem do Templo, conversando entre si. Ouço a voz de Joaquim, que diz:
- Eu teria dado até todos os meus cordeiros, não só os dois melhores, em troca desta alegria, para dar louvor a Deus! Nada mais vejo.



 Jesus diz:  

“Salomão faz a Sabedoria dizer: “Quem é criança, venha a mim”. Na  verdade, é da fortaleza e dos muros de sua cidade que a eterna Sabedoria dizia à eterna menina: “Vem a mim”. Ansiava por tê-la. Mais tarde, o Filho desta puríssima menina dirá: “Deixai vir a Mim os pequeninos, porque deles é o Reino dos Céus, e quem não se tornar semelhante a eles, não terá parte no meu Reino”. As vozes se perseguem e, enquanto a voz do Céu grita à pequena Maria: “Vem a Mim”, a voz do Homem pensa em sua mãe, ao dizê-lo: “Vinde a Mim, se souberdes ser pequeninos”. Dou-vos um modelo em minha mãe. Eis a perfeita criança, do coração de pomba, simples e puro, eis Aquela que os anos e os contatos do mundo não conseguem embrutecer pela barbárie de um espírito corrompido, tortuoso, mentiroso. Porque Ela não quer este espírito. Vinde a Mim, olhando para Maria. Tu, que a estás vendo, diz-me: o seu olhar de criança é muito diferente do olhar com que a viste aos pés da Cruz, na alegria do Pentecostes, na hora em que suas pálpebras desceram sobre seus olhos de gazela para o seu último sono? Não. Aqui está o olhar incerto e espantado da criança; mais tarde será o olhar espantado e verecundo da Anunciada; mais tarde ainda, o olhar feliz da mãe de Belém; depois, o olhar de adoradora da minha primeira e sublime discípula; depois ainda, o olhar dilacerado da atormentada no Gólgota; depois, o olhar radiante da Ressurreição e Pentecostes; e, por fim, o olhar velado do sono extático da última visão. Mas, seja que se abra às primeiras vistas, seja que se feche cansado sobre a última luz, depois de ter visto tanta alegria e tanto horror, o olho é sereno, puro, plácido, nesga de céu que brilha sempre de modo igual, sob a fronte de Maria. Ira, mentira, soberba, luxúria, ódio, curiosidade, nunca o sujam com suas nuvens de fumaça. É o olho que olha para Deus com amor, tanto quando chora, como quando ri. Por amor de Deus acaricia e perdoa, tudo suportando. Por amor ao seu Deus se torna inatacável aos assaltos do Mal, que muitas vezes se serve dos olhos para penetrar no coração. O olhar puro, repousante, benevolente, que têm os puros, os santos, os enamorados de Deus.  
Eu disse: “A luz do teu corpo são os teus olhos. Se os olhos são puros todo o teu corpo estará iluminado. Mas se os olhos são turvos, toda a tua pessoa estará em trevas”. Os santos tiveram esse olho que é luz para o espírito e salvação para a carne, porque como Maria, durante toda a sua vida, não olharam senão para Deus. Ao contrário, eles sempre se lembraram de Deus. Explicarei a ti, pequena voz, qual é o sentido desta minha palavra”.

(O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta. Vol. 1)

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