“NO TERCEIRO DIA, UMA LUZ VINDA DOS CONFINS DO UNIVERSO, COMO UM METEORO, VAI DIRETO ATÉ O SEPULCRO, QUANDO UM ESTRONDO SACODE A TERRA, AFASTANDO A ENORME PEDRA QUE O SELAVA, E OS GUARDAS ROMANOS FICAM ATORDOADOS. A LUZ ENTÃO ENTRA NO CORPO INERTE DE JESUS, QUE EM SEGUIDA LEVANTA, TRANSPASSANDO OS PANOS DA MORTALHA COM SEU CORPO IMATERIAL FULGURANTE. RESSUSCITANDO DOS MORTOS COM UMA MATÉRIA INCORPÓREA DE INTENSA LUZ, CONHECIDA APENAS POR DEUS, DE UMA BELEZA INDESCRITÍVEL.”

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

OS DETALHES DE COMO FOI A MORTE DE JOÃO BATISTA.


A notícia da morte de João Batista.


Ouvem-se umas vozes gritando lá no horto. Pedem com ânsia: “ O Mestre! O Mestre! Quem é?”
Responde com uma voz cantante a dona da casa: “ Ele está no quarto de cima. Quem sois vos? Doentes?”
Não. Somos discípulos do João, e queremos falar com Jesus de Nazaré.
Jesus aparece á janela, e diz: “ A paz esteja convosco... Oh! Sois vós? Vinde! Vinde!
São os três pastores João, Matias e Simeão. Oh! Mestre!, dizem eles, levantando as cabeças e mostrando uns rostos entristecidos. Nem mesmo a vista de Jesus os tranqüiliza.
Jesus sai do quarto, e vai até eles, no terraço. Manaém o acompanha. Encontram-se justamente no ponto em que a pequena escada desemboca no terraço exposto ao sol.
Os três se ajoelham, beijando o chão. Depois o João diz por todos: E agora, acolhe-nos, Senhor, porque nós somos a tua herança, e as lágrimas descem pelo rosto do discípulo e dos companheiros.
Jesus e Manaém deram juntos um grito: “ João?”
Foi morto...
Aquela palavra caiu como se fosse um enorme fragor, cobrindo todos os outros rumores do mundo. E, no entanto, ela foi falada muito baixo. Mas ela petrifica quem a diz e quem a ouve. E parece que a terra, para recolhê-la, e para horrorizar-se com ela, suspenda todos os rumores que ela tinha, a tal ponto, que se faz um espaço de tempo de silêncio e de profunda imobilidade nos animais, nas copas das árvores e no ar. Fez também uma pausa o arrulhar dos pombos, obstrui-se a flauta dos melros, tornou-se mudo o coral dos pássaros, e, como se tivessem sido quebradas de repente suas pequeninas maquinas, as cigarras estridentes se calam subitamente, enquanto que também o vento pára de soprar, quando ele estava acariciando as folhas dos parreirais e fazia ouvir um frufru de seda, e cessa até a chiadeira das peças de madeira seca que se atritavam nas máquinas.
Jesus fica com uma palidez de marfim, enquanto seus olhos se dilatam, e se põem vidrados pelas lágrimas. Ele abre os braços ao falar, a sua voz se faz ouvir profunda, por causa do esforço feito para dizer com firmeza: “ Paz ao mártir da justiça e ao meu Precursor.” Depois ele junta os braços e se recolhe em seu espírito, e certamente estará rezando, comunicando-se com o Espírito de Deus e do Batista.
...Jesus abre de novo a boca e os olhos. Seu rosto, seu olhar, sua túnica recuperaram a majestade divina, que lhe é habitual. Só continua uma pesada tristeza, mas temperada pela paz.
“ Vinde. Vós o contareis a Mim. Desde hoje já sois meus.”
E os conduz ao quarto, fechando depois a porta e entreabrindo o toldo, para regular a entrada da luz, a fim de poderem ter um recolhimento, pensando na dor e na beleza da morte do Batista, e para separarem a perfeição de sua vida do mundo corrompido.
“ Falai, diz Jesus.
... Foi na tarde da festa. Era imprevisível o que aconteceu... Apenas duas horas antes, Herodes se havia aconselhado com João, dando-lhe depois benignamente a licença de poder ir-se. E, pouco antes que acontecesse... o homicídio, o martírio, o delito, a glorificação, Herodes lhe havia mandado um servo levando frutas geladas e vinhos raros ao prisioneiro. João havia distribuído entre nós aquelas coisas... Ele nunca mudou a sua austeridade... Só nós é que estávamos lá, porque, graças a Manaém, trabalhávamos no palácio como servos, nas cozinhas e nas estrebarias. E esta era a oportunidade que nos permitia ver sempre nosso João... Ficávamos na cozinha eu e João, enquanto Simeão vigiava os servos das estrebarias, para que tratassem com cuidado as cavalgaduras dos hóspedes... O palácio vivia cheio de grandes, de chefes militares e de senhores da Galiléia. Herodes havia se fechado em seus aposentos, depois de uma violenta cena acontecida pela manhã entre ela e Herodes...
Manaém interrompe: “ Mas, quando é que foi para lá a hiena?”
Dois dias antes. Inesperada... dizendo ao monarca que não podia viver longe dele, nem estar ausente no dia de sua festa. Uma víbora e uma feiticeira, que, como sempre, o tratava como um objeto de escárnio... Mas Herodes, pela manhã daquele dia, se havia recusado, ainda que estivesse bêbado pelo vinho e pela luxúria, a conceder á mulher o que ela estava pedindo em altos gritos... E ninguém podia pensar que fosse a vida de João! Ela estava em seus aposentos, toda desdenhosa, tinha recusado as iguarias reais, mandadas por Herodes em bandejas preciosas. Ela só tinha retido uma bandeja preciosa, cheia de frutas, retribuindo ao presente com uma ânfora de vinho drogado para Herodes... Drogado... Ah! Drogado, o tanto necessário para que a natureza de Herodes, sempre bêbado e viciado, o levasse ao delito! Pelos servos da mesa ficamos sabendo que, depois da dança das atrizes da corte, ou antes da metade dela, havia irrompido no salão do banquete Salomé, dançando. E as atrizes, diante da menina real, se haviam retirado para perto das paredes. A dança era perfeita, segundo nos disseram. Lasciva e perfeita. Era digna dos hóspedes... Herodes... Oh! Talvez algum novo desejo de incesto lhe estivesse fermentando por dentro. Herodes, ao chegar o fim daquela dança, cheio de entusiasmo, disse a Salomé: “ Dançaste bem! Eu juro que mereces um prêmio. E eu juro que te darei; Eu juro que te darei qualquer coisa, que quiseres pedir. Na presença de todos, eu juro. Pede, então, o que quiseres.”
E Salomé, fingindo estar perplexa, inocente e modesta, envolvendo-se em seus véus, com ares de pudica, depois de tanta impudicícia, disse: “ Permite-me, ó grande, refletir um momento. Vou retirar-me, depois virei, porque o teu favor me deixou perturbada...”, e se retirou, indo conversar com sua mãe. Selma me disse que ela entrou rindo e disse á sua mãe:” Minha mãe, tu venceste. Dá-me a bandeja.” E Erodíades, com um grito de triunfo, mandou a escrava, que disse á menina, a bandeja, antes retida, dizendo-lhe: “ Vai, e volta aqui com aquela cabeça odiada, e eu te vestirei de pérolas e de ouro.” E Selma, horripilando-se, obedeceu... Salomé tornou a entrar, dançando na sala, e, dançando, foi prostrar-se aos pés do rei, dizendo: “ Eis aqui, sobre esta bandeja, que mandaste á minha mãe, em sinal de que a amas e me amas, sobre ela eu quero a cabeça de João. Depois dançarei ainda, se isso te agrada. Dançarei a dança da vitória. Porque eu te venci. Eu te venci, ó rei! Venci a vida, e estou feliz!”
Isso foi o que ela disse, e que nos foi repetido por um copeiro amigo. E Herodes ficou perturbado e obrigado por duas vontades, a de ser fiel á palavra dada e a de ser justo. Mas, não soube ser justo, porque ele é um injusto. Fez sinal ao carrasco, que estava atrás da cadeira do rei, e ele, tomando das mãos levantadas de Salomé a bandeja, desceu do salão do banquete para os compartimentos inferiores. Nós o vimos atravessar a corte, eu e João... e, pouco depois, ouvimos o grito do Simeão: “ Assassinos!”, e em seguida, o vimos passar com a cabeça na bandeja... João, o teu Precursor, estava morto...
Simeão, podes dizer-me como foi que ele morreu?, pergunta depois de algum tempo, Jesus.
Sim. Ele estava em oração... Ele me havia dito antes: “ Daqui a pouco, voltarão os dois enviados, e quem não crê, crerá. Mas, enquanto isso, lembra-te de que, se eu não estiver mais vivo, quando eles voltarem, pois eu sou como alguém que está perto de morrer, eu ainda te digo, a fim de que digas a eles: “ Jesus de Nazaré é o verdadeiro Messias.” Ele pensava sempre em Ti... O carrasco entrou. Eu dei um grito forte. João levantou a cabeça, e o viu, depois, se pôs de pé e disse: “ Não podes mais do que cortar-me a vida, Mas a verdade, que permanece, é que não é lícito fazer o mal.” E estava para dizer-me uma coisa, quando o carrasco rodou no ar a pesada espada, enquanto João ainda estava de pé, e a cabeça caiu separada do busto, com um grande jorro de sangue, que avermelhou a pele de cabra que ele vestia, e fez ficar cor de cera o seu rosto magro, no qual continuaram vivos, abertos, acusadores aqueles olhos. Ela me rolou aos pés... Depois que Herodíades bateu nela e a deformou, mandou que a cabeça fosse jogada aos cães. Mas nós a recolhemos logo e, com um véu precioso, o envolvemos junto com o corpo. Compusemos, de noite, o corpo, e o transportamos para fora de Maqueronte. Nós fomos embalsamá-lo dentro de uma moita de acácias, que havia lá perto, ao raiar do sol, com a ajuda de outros discípulos. Mas ainda ele foi tomado de nós para outras deformações. Porque ela não pôde destruí-lo, nem pôde perdoá-lo... E os seus escravos, por medo da morte, foram mais ferozes do que uns chacais, ao tomarem de nós aquela cabeça. Se ti estivesses lá, Manaém...
Se eu estivesse lá... Mas é a maldição dela aquela cabeça... Em nada fica diminuída a glória do Precursor, ainda que seu corpo fique incompleto. Não é verdade, Mestre?
É verdade. Mesmo que os cães o tivessem destruído, não se teria mudado sua glória.
Nem ficou mudada a palavra dele, Mestre. Os seus olhos, ainda que maltratados e transformados em uma grande ferida, ainda estão dizendo: “ Não te é lícito.”
Mas nós o perdemos, diz Matias.
E nós agora somos teus, porque assim ele disse, dizendo também que Tu já sabes.
Sim. Há sete meses que já sois meus. Como foi que viestes?
A pé, por etapas. Longo, difícil era o caminho, por cima de areias ardentes e expostas ao sol, mas mais ardente era a nossa dor. Há quase vinte dias que estamos caminhando.
Agora, descansareis.
Manaém pergunta: “ Dizei-me, Herodes não estranhou a minha ausência?
Sim. Primeiro ficou inquieto, e furioso depois. Mas, quando passou o seu furor, ele disse: “ É um juiz a menos.” Isto foi o que nos contou o copeiro nosso amigo.
Jesus diz: “ Um juiz a menos! Ele tem Deus por juiz. E basta isso.


( ) Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol 4, pgs 305 a 309)

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