COMO TUDO FOI FEITO?
Eis a página infinita
sobre a qual as águas correntes vêm escrever a palavra “ Creio”. Pensai no caos
do Universo, antes que o Criador quisesse ordenar os elementos e estabelecer
entre eles a maravilhosa sociedade que deu aos homens a terra e tudo o que ela
contém, e ao firmamento os astros e os planetas. Nada de tudo isto existia
antes. Nem como um caos informe, nem como coisa já feita em ordem. E Deus a
fez. Portanto, Ele fez primeiro os elementos. Pois eles são necessários, ainda
que as vezes nos pareçam nocivos. Mas pensai bem e sempre. Não há nenhuma
pequena gota de orvalho que não tenha a sua boa razão de ser. Não há inseto, por
pequeno e molesto que seja, que não tenha a sua boa razão de ser. E assim
também não existe montanha, por mais monstruosa que seja, vomitando de suas
vísceras fogo e pedras incandescentes, que não tenha sua boa razão de ser. Não
existe ciclone sem motivo. E não há passando das coisas para as pessoas, não há
acontecimento, não há pranto, não há alegria, não há nascimento, não há morte,
não há esterilidade ou maternidade fecunda, não há longo convívio nem rápida
viuvez, não há desventuras de misérias e doenças, como também não há
prosperidade de meios e de saúde que não tenha a sua boa razão de ser, ainda
que assim não pareça à miopia e soberba do homem, que vê e julga com todas as
cataratas e com todas as névoas que acompanham as coisas imperfeitas. Mas o Olho
de Deus, mas o Pensamento sem limitações de Deus, vê e sabe. O segredo para se
viver imunes dessas dúvidas estéreis, que nos põem nervosos e nos exaurem, que
envenenam os nossos dias na Terra, está em saber crer que Deus tudo faz por
amor e não na estulta intenção de atormentar por atormentar.
Deus havia criado os anjos. E uma parte deles por não terem
querido acreditar que já estava bom o nível de glória em que Deus os havia
colocado, se haviam rebelado e, com seus espíritos queimados pela falta de fé em
seu Senhor, haviam tentado assaltar o trono inacessível de Deus. As harmoniosas
razões dos anjos que tinham fé, eles haviam oposto a sua discordância, o
pensamento injusto e pessimista, e esse pessimismo que é falta de fé, os tinha
transformado de espíritos de luz, como haviam sido feitos em espíritos das
trevas.
Vivam para sempre aqueles que no Céu como na terra, sabem
fundamentar seus pensamentos em um pressuposto cheio de luz. Nunca se enganarão
completamente, ainda que os fatos os estivessem desmentindo. Não se enganarão,
pelo menos no que se refere aos seus espíritos, os quais continuarão a crer, e
esperar, a amar acima de tudo a Deus e depois ao próximo, permanecendo por isso
com Deus pelos séculos dos séculos.
O Paraíso já tinha libertado desses orgulhosos pessimistas,
os quais viam como escuras até as mais luminosas obras de Deus, assim como na
terra os pessimistas vêem escuras até as ações mais sinceras e brilhantes do
homem, ou por quererem viver separados em uma torre de marfim, ou por se crerem os únicos perfeitos, eles se
auto condenam a uma prisão escura, que termina nas trevas do reino inferior, o
reino da negação. Porque o pessimismo é negação.
Deus, pois, fez o conjunto dos seres criados. E , como, para
compreender o mistério glorioso de Nosso Ser Uno e Trino, é necessário saber
crer e ver que, desde o princípio, o Verbo existia, e estava junto de Deus,
unidos pelo Amor perfeitíssimo, que só podem expandir dois, que são Deus sendo
Um, assim igualmente para se ver o conjunto dos seres criados como ele é, é
necessário olhá-lo com os olhos da fé, porque no seu ser, assim como um filho
traz em si o indelével reflexo do Pai, assim o conjunto dos seres criados tem
em si o indelével reflexo do seu Criador. Veremos que também aqui no princípio
foi o céu e a terra, depois foi a luz, comparável ao amor. Porque a luz é
alegria, como o é também o amor. E a luz é a atmosfera do Paraíso. E o Ser
incorpóreo que é Deus, é Luz, e é o Pai de toda luz intelectiva, afetiva,
material, espiritual, assim no céu como na Terra.
No princípio foi o céu e a terra, e por eles foi dada a luz,
e pela luz todas as coisas foram feitas. E como no Céu altíssimo foram
separados os espíritos de luz dos espíritos das trevas, assim no conjunto dos
seres criados, foram separadas as trevas da luz, e foram feitos o dia e a noite
e o primeiro dia, conjunto de seres criados, foi com sua manhã e sua tarde, com
seu meio dia e sua meia noite. E quando o sorriso de Deus, a luz, voltou depois
da noite, eis que a mão de Deus, a sua poderosa vontade se estendeu sobre a
Terra informe e vazia, se estendeu por sobre o céu, onde vagavam as águas, um
dos elementos já libertados do caos, e quis que o firmamento separasse o
vaguear desordenado das águas entre o céu e a terra, para houvesse um véu dos fulgores
do paraíso, medida às águas superiores, para que sobre a agitação dos metais e
dos átomos, não caíssem dilúvios sobre a Terra, arrancando e desregrando as
coisas que Deus reunia.
A ordem estava estabelecida no céu. E a ordem se fez sobre a
Terra, pela ordem que Deus deu as águas espalhadas pela terra. E o mar se fez.
Ei-lo. Sobre ele como sobre o firmamento, está escrito: “ Deus existe”. Seja
qual for a intelectualidade de um homem e a sua fé ou a sua falta de fé, diante
desta página, na qual brilha uma partícula da infinitude que é Deus, na qual
está testemunhado o seu poder, porque nenhum poder humano e nenhum assentamento
natural de elementos podem repetir, nem mesmo na menor medida, um prodígio
igual, o homem é obrigado a crer. A crer não só no poder, mas na bondade do
Senhor, que por este mar dá alimento e estradas ao homem, dá sais salutíferos,
dá moderação para o sol e espaço para os ventos, dá sementes a terra, uma
distante da outra, dá vozes às tempestades, para que eles chamem de novo essa formiga,
que é o homem em comparação com o infinito que é seu Pai, e dá-lhe meios para
elevar-se contemplando mais altas visões, em mais altas esferas.
Três são as coisas que mais falam de Deus na criação que é todo
testemunho dele: A luz, o firmamento e o mar.
A ordem astral e metereológica, reflexo da ordem Divina, a luz que só um
Deus podia fazer, o mar, a potência que só Deus depois de tê-lo criado podia
por dentro de firme limites, dando-lhe movimento e voz, sem que por isso como
um turbulento elemento de desordem, ele cause prejuízo à terra que o suporta em
sua superfície.
Penetrai o mistério da luz, que nunca se consome. Levantai o olhar para
o firmamento, onde estão rindo as estrelas e os planetas. Abaixai o vosso olhar
para o mar. Vede-o como ele é. Não há separação. Mas há uma ponte entre os
povos que estão em outras praias, invisíveis, até desconhecidas, mas que é
necessário crer que existem, só porque são deste mar. Deus não faz nada inútil.
Por isso Ele não teria feito essa infinidade, se ela não tivesse como limite
lá, para lá do horizonte, vindas de um único Deus, levadas para lá por vontade
de Deus, para povoarem continentes e regiões, levadas por tempestades, e
correntes marítimas. E esse mar leva em suas ondas, nas vozes de suas águas e
de suas marés, apelos que vêm de longe. Existem caminhos não separações.
A ânsia que produz uma doce angústia em João é este apelo dos irmãos
longínquos. Quanto mais o espírito se torna dominador da carne, tanto mais ele
é capaz de ouvir as vozes dos espíritos que estão unidos, mesmo quando
divididos, assim como os ramos brotados de uma única raiz estão unidos, mesmo
quando um não vê o outro, porque algum obstáculo se interpõe entre eles.
Olhai o mar com olhos de luz. Nele cevareis terras e terras, espalhadas
ao longo das praias, dentro de seus limites, e pelo interior, terras e mais
terras ainda, e de todas vem este grito: “ Vinde! Trazei-nos a luz que vós
possuís. Trazei-nos a vida que vos é dada. Dizei ao nosso coração a palavra,
que nós ignoramos, mas que sabemos que é a base do universo: o amor.
Ensinai-nos a ler a palavra que vemos traçada sobre as páginas infinitas do
firmamento e do mar: Deus.
Iluminai-nos para que vejamos que uma luz viva é mais, é mais
verdadeira ainda do que a que avermelha os céus e enche de pedras preciosas o
mar. Daí as nossas trevas a Luz que Deus vos deu, depois de tê-la gerado com
seu amor, e a deu a vós, mas para todos, assim como a deu aos outros, mas para
que eles a dessem á terra. Vós sois os astros, nós a poeira. Mas, formai-vos
assim como o Criador com o pó da terra formou o homem para que a povoasse,
adorando-o agora e sempre, até que chegue a hora em que não existirá mais a
terra, mas venha o Reino. O Reino da Luz, do Amor, da Paz, assim como a vós o
Deus vivo disse que virá, porque nós também somos filhos deste Deus e pedimos
para conhecer o nosso Pai.
( O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol. 4, pgs.
107,108,109,110)
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