O ESPÍRITO SANTO FALA
João, que ficou o
tempo todo escutando de cabeça inclinada e sorrindo para si mesmo, levanta um
rosto iluminado, e toma a palavra.
“Meus irmãos! Só de
pensar em subir já dá vertigem. É verdade. Mas, quem vos está dizendo que é
preciso procurar atingir as alturas diretamente? Isto não só os pequenos, mas
nem os adultos o podem fazer. Somente os anjos podem projetar-se no azul,
porque eles estão livres de todo peso da matéria. Isso, entre os homens, só os
heróis da santidade o podem fazer.
Nós temos alguém, que
ainda está vivo neste mundo tão envilecido, que sabe ser herói de santidade
como aqueles antigos de que Israel se gloria, quando os Patriarcas eram amigos
de Deus, e a palavra do Código eterno era a única, mas era obedecida por toda
criatura integra. João, o Precursor, ensina como é que se atinge as alturas
diretamente. E João é um homem. Mas a Graça que o fogo de Deus lhe comunicou,
purificando-o desde o ventre de sua mãe, do mesmo modo que foi purificado pelo
Serafim o lábio do Profeta a fim de que ele pudesse preceder ao Messias, sem
deixar o fedor da culpa original sobre o caminho real do Cristo, deu a João
asas de anjo, e a penitência as fez crescer, abolindo, ao mesmo tempo, aquele
peso de humanidade que a sua natureza de nascido de mulher havia conservado nele.
É daí que João, de sua caverna onde prega a penitência, e do seu corpo no qual
arde o espírito desposado com a Graça, daí é que ele se projeta, e pode
lançar-se a si mesmo até ao ápice do arco, além do qual está Deus, o Altíssimo
Senhor nosso Deus, e pode, dominando os séculos passados, o dia presente e o
tempo futuro, anunciar com voz de Profeta e com olhos de águia, capazes de
fixar o Sol eterno, e de reconhecê-lo: “Eis o Cordeiro de Deus, o que tira os
pecados do mundo” e morrer, depois desse seu canto sublime, que será usado, não
só no tempo limitado, mas no tempo sem fim, na Jerusalém para sempre eterna e
feliz, para aclamar a Segunda Pessoa, para invocá-la sobre as misérias humanas,
para cantar-lhe hosanas nos fulgores eternos.
Mas o Cordeiro de Deus,
o Dulcíssimo Cordeiro, que deixou a sua luminosa morada dos Céus, nos quais Ele
é fogo de Deus em abraço de fofo oh! Eterna geração do Pai que concebe com o
Pensamento ilimitado e santíssimo o seu Verbo, e o absorve, produzindo uma
fusão de amor que cria o Espírito de Amor, no qual se concentra o Poder e a
Sabedoria! – mas o Cordeiro de Deus, que deixou a sua puríssima e incorpórea
forma, para encerrar sua pureza infinita, sua santidade, sua natureza divina em
carne mortal, sabe que nós não somos os purificados pela Graça, ainda não o
somos, e sabe que não poderíamos, como a águia que é João, projetar-nos ás
alturas, ao cume onde está Deus Uno e Trino. Nós somos esses pequenos
passarinhos dos telhados e da rua, somos as andorinhas que tocam no azul, mas vivem
comendo insetos; somos as cotovias, que querem cantar para imitar os anjos, mas
que, diante do canto deles, o nosso é um frêmito desafinado de cigarra de
verão. Isto, o Doce Cordeiro de Deus, que veio tirar os pecados do mundo, sabe
muito bem. Porque, se não é mais o Espírito Infinito dos Céus, tendo-se
limitado a Si mesmo pela carne mortal, a sua infinidade não fica diminuída por
isso, e tudo sabe, ficando sempre infinita a sua sabedoria.
E eis que agora, Ele
está nos ensinando o seu caminho. O caminho do amor. Ele é o Amor que, por
misericórdia para convosco se faz carne. Eis que agora este Amor misericordioso
cria para nós um caminho por onde até os pequeninos podem subir. E Ele, não por
sua necessidade, mas para no-lo ensinar, o percorre como o primeiro à nossa
frente. Ele nem teria necessidade de abrir as asas para voar, e já estaria
intimamente unido ao Pai. O seu espírito, eu vo-lo garanto, está encerrado
aqui, nesta pobre terra, mas está sempre com o Pai, porque Deus tudo pode, e
Ele é Deus. Mas Ele vai à frente, deixando atrás de si os aromas de sua
santidade, o ouro e o fogo do seu amor. Observai o seu caminho. Oh! Como chega
até ao ápice do arco! Mas, como é tranquilo e seguro! Não vai em linha reta,
vai numa espiral. É mais comprido, e o sacrifício dele, sacrifício de amor
misericordioso, se revela nesse comprimento, sobre o qual Ele se detém a Si
mesmo, por amor de nós que somos fracos. Mais comprido, mas mais adaptado à
nossa miséria. A subida para o Amor, para Deus, é simples, como simples é o
Amor. Mas é profunda, porque Deus é um abismo, que diria inatingível, se Ele
não se tivesse abaixado para fazer-se atingível, para sentir-se beijar pelas
almas por Ele enamoradas. É comprido o caminho simples do Amor, porque o
Abismo, que é Deus, não tem fundo, e tanto alguém pode subir, quanto quiser.
Mas o Abismo Admirável chama o nosso abismo miserável. Chama com as suas luzes
e diz: “Vinde a Mim!”
Oh! O convite de Deus!
Convite de Pai! Ouvi! Ouvi! Dos Céus deixados abertos, porque Cristo escancarou
as portas dele, colocando, para conservá-las assim, os anjos da Misericórdia e
do Perdão, para que, na expectativa da Graça, descessem deles pelo menos as
luzes, os perfumes, os cantos e orvalhos, próprios para seduzir santamente os
corações dos homens, e de lá estão chegando até nós palavras suavíssimas. É a
voz de Deus que fala. E a voz diz: “A vossa meninice? Mas é a vossa melhor
moeda! Eu quereria que todos vós vos tornásseis pequenos, para terdes em vós a
humanidade, a sinceridade e o amor dos pequenos, o confiante amor dos pequenos
para com o Pai. Sereis incapazes? Mas esta é a minha glória! Oh! Vinde. Eu nem
vos peço que vós, por vós mesmos, tireis a prova do som das pedras boas e más.
Mas dai-as a Mim! Eu as escolherei, e vós reconstruireis. Será uma subida para
a perfeição? Oh! Não meus pequenos filhos. Aqui com a mão na mão do meu Filho,
vosso irmão, agora e assim, ao lado dele, subi...” Subir! Ir a Ti, Eterno Amor!
Tomar a tua semelhança, isto é o Amor!
Amar! Ai está o
segredo!... Amar! Dar-se! Aniquilar-se, fundir-se. A carne, a dor, não é nada.
E o tempo? Não é nada. Até o pecado se torna um nada, se eu o dissolvo no teu
fogo, ó Deus! Só o Amor é tudo. O Amor! O Amor que nos deu o Verbo encarnado
nos dará todo perdão. E amar é uma coisa que ninguém sabe melhor do que os
pequenos. E ninguém é mais amado do que um pequeno.
Ó tu, que eu não
conheço, mas que queres conhecer o Bem para distingui-lo do Mal, para teres o
azul, o Sol celeste, tudo o que é alegria sobrenatural, ama, e o terás. Ama o
Cristo, Morrerás na vida, mas ressuscitarás no espírito. Com um espírito novo,
sem teres mais necessidade de fazer uso de pedras, serás por toda a eternidade
um fogo que não morre. Sua chama sobe. Ela não precisa de degraus nem de asas
para subir. Livra o teu eu de toda construção, põe em ti o amor.
Inflamar-te-ás. Deixa que isso aconteça sem restrições. Excita, pelo contrário,
a chama, dando-lhe para alimentá-la, todo o eu passado de paixões, de saber. Na
chama se destruirá o que for menos bom, e o que é metal nobre se tornará puro.
Joga-te ó irmão, no amor ativo e jubiloso da Trindade.
Compreenderás isso que
agora te parece incompreensível, porque compreenderás a Deus, que é
compreensível somente por aqueles que se entregam sem medida ao seu fogo
sacrificador. Fixar-te-ás finalmente em Deus, em um abraço de chama, rezando
por mim, o pequeno de Cristo, que ousou falar-te de Amor.”
(O Evangelho como me
foi revelado-Maria Valtorta-Vol. 3 pgs. 45,46,47,48)