ADEUS Á MÃE
ANTES DE ASCENDER AO PAI
22 de fevereiro de 1944
Vejo sempre o quarto habitado por Maria. Os
sinais da Paixão desapareceram. A Virgem está sentada e lê. Devem ser livros
sagrados, porque não lê certamente outra coisa que o rolo que tem nas mãos. Não
está mais torturada. O seu rosto permanece mais grave desde a Paixão, mais
maduro. Mas não está mais trágico o seu rosto. Agora está majestoso, mas
sereno.
Parece manhã, porque há já um belo sol que da
janela aberta, entra no quarto quieto, mas se vê que o jardim, fechado com
altos muros, sobre o qual se abre a janela, está ainda todo fresco de orvalho.
Entra Jesus. Tem ainda a sua esplêndida veste da
manhã da Ressurreição. O seu rosto emana fulgor e as suas feridas são pequenos
sóis.
Maria se ajoelha sorrindo e depois se levanta e o
beija sobre a mão direita. Jesus a abraça ao coração e a beija na fronte,
sorrindo, e lhe pede um beijo que Maria dá também sobre a fronte dele.
“Mamãe! O meu tempo de permanência sobre a terra
terminou. Subo ao Pai. Vim dar-te um adeus particular e mostrar-me a ti ainda
uma vez, assim como estarei no Céu. Não pude mostrar-me aos homens com esta
veste de esplendor. Não teriam podido suportar a beleza do meu Corpo
Glorificado. Essa é muito superior às suas possibilidades. Mas a ti, Mamãe,
sim. E venho alegar-te ainda uma vez mais com ela.
Beija as minhas feridas. Que Eu sinta no Céu um
perfume dos teus lábios e que permaneça sobre esses a doçura do meu Sangue.
Mas estejas segura, Mamãe, que Eu não te deixarei
jamais. Sairei do teu coração naqueles poucos instantes necessários à
consagração do pão e do vinho, para retornar depois de ter-me separado de ti
com fadiga, com uma ânsia de amor semelhante à tua, ó meu Céu vivo do qual Eu
sou o Céu.
Não estaremos jamais tão unidos como de agora em
diante, Antes havia a minha incapacidade embrional, depois a minha infância,
depois a luta da vida e do trabalho, e depois a missão, e depois a Cruz e o
sepulcro a manter-me distante e impedido de dizer-te quanto te amo. Mas agora
serei em ti não apenas criatura que se forma, não mais junto de ti entre os
obstáculos do mundo que impede a fusão de dois que se amam. Agora estarei em ti
como Deus, e nada, nada na terra e no Céu será apto a separar-me de ti, tu de
Mim, Mãe Santa. Direi a ti palavras de inefável amor, darei carícias de
inexprimível doçura. E tu me amarás por quem não me ama.
Oh! Tu plenificas a medida do amor, que o mundo
não dará ao Cristo, com teu amor perfeito, Mamãe. Por isso, mais que um adeus,
a minha é uma saudação de quem sai por um momento, como se fosse colher rosas e
lírios neste jardim florido. Mas te trarei do Céu rosas e outros lírios mais
belos que estes aqui floridos. Plenificarei o teu coração, Mamãe, para fazer-te
esquecer a podridão da terra, que não quer ser santa, e antecipar-te a auréola
do bem-aventurado paraíso, onde és esperada com tanto amor.
E o Amor, que não sabe esperar, virá sobre ti
dentro de dez dias. Faze-se bela, com tua mais bela alegria, ó Mãe Virgem, que
o teu Esposo vem. O inverno já passou... as vinhas em flor exalam o seu
perfume, e Ele canta: “Vem, ó toda bela. Vem, ó minha Esposa, serás coroada.”
Do seu Fogo te coroará, ó Santa, e te fará feliz com o teu Esposo, que se
infundirá em ti com todos os seus esplendores, ó Rainha da Sabedoria, sua
Rainha, que pudeste compreendê-la desde a manhã de tua vida e amá-lo como
criatura no mundo jamais o amou.
Mãe. Eu subo ao nosso Pai. Sobre ti, Bendita, a
bênção do teu Filho.”
Maria irradia êxtase, no quarto que permanece
luminoso pela luz de Cristo.
(O Evangelho como me foi revelado – Maria
Valtorta, Vol. 10, pgs. 404.405,406)
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